quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cachorro das Entidades

... que bem poderia ser o Cão das Lágrimas de Saramago. Ele nos seguiu desde a saída do maracatu. Nada o assustou, nem o barulho das alfaias, dos agogôs, dos abês, das caixas de guerra... A chuva torrencial que caia sobre Olinda, o lixo do carnaval que nos arrastava nos veios de água que escorriam das ladeiras misturados a urina e Ele lá, persistente desfilando entre os batuqueiros, rei, rainha e calunga do maracatu.
O percurso foi longo e confuso, em alguns trechos, tendo que enfrentar a multidão que insistia em obstruir as ruas naquela euforia etílica e a chuva rompendo a pele dos tambores. Na apoteose do desfile, a subida ao palco da avenida segismundo gonçalves e o Cão lá, tentando subir junto com o maracatu e sendo escurraçado pelos seguranças do palco.
Subimos e quando menos esperávamos, la estava Ele, transitando entre os personagens, se entrelaçando nas saias de Oxalá, Oxum, Iansã e Xangô, participando do evento mais democrático de estas terras: o carnaval.

Reflexões de Cinzas da Quarta

Pensava que a cor verde pertencia àqueles de olhos verdes e que eu não tinha direito a ter esta cor como a minha preferida. Pensamentos de crianças, mágicos, punitivos e restritivos. Na minha infância, via os olhos de minha mãe como se fossem verdes e depois, constatei que eram azuis. Talvez seja por isso que eu nem gosto muito de azul, apesar de combinar bem com minha pele. Eu tambem não tenho olhos azuis.
Nestas pequenas construções infantis é que vamos montando nosso quebra-cabeça de preferências, inserções, marginalizações, aceites e rechaços. Sobrou-me o vermelho para preferir e assim segui na vida, intercalando depois com verde, quando num esforço sobre humano, vi que as cores não são propriedades de ninguem, mas ainda necessito aproximar-me mais do azul porque de verdade me cai bem.